4 poemetos

Os enunciados correm
sobrevoam
desmaiam sobre as coisas
não se explicam
ensaiam
a performance de uma queda
ou de uma perda.










Há dias
em que tudo é inútil
a permanência
é uma sina
e a vida uma melodia
que nos visita.










A provocação do infinito
enche o compartimento
o desenho interpreta
a vazio
lugar simbólico
tropeços da indiferença
confiar
na palavra
acreditar
na incerteza dos objetos.












O humor
classifica o homem
rasga
a ética do temor
brinca
com o inacessível.
A gargalhada
é a ressonância do anônimo

Encontro

O olho caça
na mata
abaixo do umbigo
um abrigo
secreta pátria
a língua avista
bem no centro
do jardim de pelos
o lugar
caverna
doce e úmida.

Uma pausa

Na paisagem oculta
da noite
a indecisão
um livro, uma canção
um blues.
O que a fala
não revela
o pulsar do ciúme
sem destino
último instante
um diário ferido.

Ponto de fuga

Que indagação faz
o umbigo feminino
quando aparece entre
uma peça e outra
da veste?
Intimidade
sensualidade.
Nem mesmo
a musicalidade dos pelos
é maior que o apelo
da cicatriz do nascimento.

Paradoxo

O infinito reclina
e adormece
na solidão dos enigmas.
As manias gregas
O mármore das imagens.
Mitos e estátuas
que desafiam
o vazio e o abstrato.
Verdades,
dúvidas de ninguém.

Na estação

Revelações do calendário
lembranças do tempo
as rugas descortinam
rabiscos da insônia
uma música desconcertante
um ponto ou uma fuga.

Cena do destino

Um vício
ao meu redor
um erro corroí
o mundo
do outro lado
incomunicável.
A paisagem
atrás da noite.
Segredos.

A neblina poda

A neblina poda
a insistência da fala
a cidade passa
no olhar faminto
de paisagens
a ansiedade
é mais veloz
que os acontecimentos
antecipa
o pavor e o tédio.

O tema ronda

O tema ronda
a lógica
invade
a língua
disparidades
não faz
insiste
inquebrável
ao menos
não diz
a razão
é um pensamento
sem saída.

A mão escuta

A mão escuta
o papel
toca a letra
um corpo
vaza o desenho
a boca resume
o traço
pássaros
cachoeiras
um bordado
que imita
a virtude e a transparência
das águas.